Antes de abordar as questões relacionadas à produção do texto em si, vale a pena destacar a importância que essa etapa tem nos vestibulares de todo o país. Por exemplo, um estudante com nota zero na redação do Enem não pode utilizar o desempenho no exame no Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que permite o ingresso em mais de 100 instituições públicas de ensino superior do Brasil.
Por outro lado, um texto bem avaliado ajuda a elevar a média final do estudante e ainda serve como critério de desempate na disputa por uma vaga. Afinal, a redação é uma maneira de as universidades identificarem os candidatos que conseguem aplicar os conhecimentos linguísticos e organizar as próprias ideias para se expressar por meio de textos.
Como é feita a correção da redação nos vestibulares?
Cada vestibular estipula a sua própria matriz de correção dos textos, ou seja, as diretrizes que a banca avaliadora irá seguir para dar uma nota para cada estudante; porém, há critérios que são considerados em todas provas: atender ao tema e à proposta, ter coesão e coerência e possuir qualidades gramatical e vocabular.
Muitos estudantes têm dúvidas sobre as diferenças entre coesão e coerência. Confira abaixo uma explicação sobre esses dois conceitos.
O que é coesão textual?
A coesão textual se refere à harmonia entre as várias partes que compõem um texto, garantindo que formem uma sequência lógica. É o que faz com que os verbos, substantivos, pronomes e todos os outros termos utilizados na redação sejam organizados de modo a transmitirem uma mensagem clara.
É um requisito determinante para desenvolver qualquer tipo de redação, visto que o objetivo dessa etapa é descobrir quem são os candidatos capazes de se expressar de maneira articulada. Se o texto for confuso ou suas frases estiverem desconexas, será impossível obter uma boa nota.
Para ajudar, existem os elementos de coesão, palavras que estabelecem uma relação entre um termo e outro, dando sentido às orações. Confira que elementos são esses:
Conectores
Um texto coeso é aquele que possui elementos que estabelecem uma ligação entre termos ou frases de forma bem estruturada. Para isso, use conjunções, preposições, pronomes, advérbios e locuções adverbiais.
Correlação verbal
Um aspecto essencial para que uma mensagem possa ser compreendida é a aplicação dos tempos e modos verbais de forma harmoniosa. Para expressar as ideias de maneira lógica, escreva textos com articulação temporal, ou seja, em que os verbos sejam concordantes. Assim, as orações tornam-se mais precisas e claras.
Referências
Nesse caso, a coesão ocorre porque se usam palavras que fazem referência ou reiteram algo que foi mencionado anteriormente. Pronomes e advérbios atendem muito bem a esse propósito, criando mecanismos como a anáfora, a catáfora, a elipse e a reiteração.
Substituições
Para assegurar a clareza do texto sem precisar repetir exaustivamente a mesma palavra — como um nome de lugar ou de alguém —, pode-se substituí-la por termos com o mesmo sentido. Para falar da cidade de São Paulo, uma substituição adequada seria a expressão “capital paulista”, por exemplo.
Quando todos esses recursos são utilizados de forma fluida e combinada ao longo de uma redação, a coesão textual fica evidente.
O que é coerência textual?
A coerência textual é mais um aspecto imprescindível para a compreensão de um texto. Assim como a coesão, ela é necessária para que se consiga transmitir as ideias com lógica. Mas, qual é a diferença entre esses dois termos?
Enquanto a coesão tem a ver com a forma como algo é dito, levando em conta a estrutura do texto e a ligação entre as partes do enunciado, a coerência está relacionada ao conteúdo da mensagem em si. Um texto pode ser coeso, mas falhar no quesito coerência se as ideias transmitidas não fizerem sentido.
Para que a redação tenha coerência, mantenha o foco no tema que está sendo desenvolvido, sem incluir frases sobre outros assuntos, e evite declarações contraditórias e ambíguas. Também é importante ser objetivo, e não repetitivo. Outra dica para construir redações coerentes é ter atenção com a continuidade temática e a progressão semântica. Isso quer dizer que se devem introduzir novas informações, tendo em mente a progressão textual.
Ao final da redação, o leitor precisa não só entender tudo o que foi dito, mas sentir que houve começo, meio e fim.
Quais são os principais tipos de redação?
Entre as diversas categorias redacionais existentes, uma delas costuma ser a mais solicitada nos vestibulares: a dissertativa.
Dissertativo
Esse é um texto no qual o autor defende uma opinião acerca de um determinado assunto. É bastante útil para discutir temas socialmente relevantes e propor soluções para os problemas que afetam a sociedade. Textos como os ensaios, os editoriais e as cartas argumentativas são considerados dissertações.
Uma dissertação pode ser classificada como um texto dissertativo-expositivo e dissertativo-argumentativo. O expositivo apenas expõe ideias ou conceitos, sem ter a preocupação de persuadir o leitor a concordar com um ponto de vista. O argumentativo, por sua vez, centra-se em uma tese e apresenta argumentos para convencer o leitor. Esse é um dos tipos de redação mais populares entre os vestibulares de todo o país — inclusive, é o modelo adotado pelo Enem.
Outros gêneros redacionais podem ser solicitados nos vestibulares. Confira abaixo alguns exemplos que se enquadram em elementos textuais que podem ser solicitados pelas universidades.
Elementos descritivos
O texto descritivo, como o próprio nome indica, é baseado na descrição de algo ou alguém. A partir das próprias impressões, o autor constrói, com palavras, uma imagem que envolve características físicas, psicológicas e outros detalhes que considere relevante para compor esse retrato.
Quando uma descrição tem um viés realista, focando em características concretas e sem expor as impressões do autor, dizemos que ela é objetiva. Por outro lado, a descrição em que essas opiniões são apresentadas, como ocorre muito nos textos literários, é chamada de subjetiva. Neste último caso, o uso de adjetivos e locuções adjetivas é predominante no texto, assim como o de comparações.
Tenha em mente que raramente há textos integralmente descritivos. Esses elementos tendem a ser pulverizados em outros gêneros redacionais, como o dissertativo e o narrativo.
Elementos narrativos
Tendo como base o relato das ações de um personagem, uma narrativa é um tipo de texto em prosa que precisa de alguns elementos para ser desenvolvido. São eles:
- Narrador: o que conta a história;
- Enredo: composto por uma série de acontecimentos;
- Personagens: principais e secundárias;
- Tempo: cronológico ou psicológico;
- Espaço: onde a trama se passa.
A narrativa normalmente começa com alguns eventos que servem para apresentar as personagens, o tempo e o espaço. Em seguida, as ações das personagens se desenrolam até o enredo alcançar o clímax, que é o momento mais dramático da trama. Por fim, no desfecho, é apresentada a resolução dos conflitos.
Esse tipo de texto pode ser narrado em primeira pessoa, quando o narrador é uma personagem, ou em terceira pessoa, quando quem relata não participa da história e, por isso, conhece todos os detalhes do enredo. Além disso, o texto também pode ser desenvolvido em:
- discurso direto, no qual as falas dos personagens aparecem;
- discurso indireto, no qual as falas não aparecem;
- ou discurso indireto livre, o qual apresenta uma mistura dos dois tipos citados acima.
Alguns gêneros redacionais que utilizam elementos narrativos são, por exemplo, o conto e a crônica.
Qual é o modelo utilizado nos principais vestibulares?
Como mencionamos, cada instituição de ensino escolhe, entre vários tipos de redação, aquele que melhor se adapta à avaliação que pretende fazer. Conheça a seguir os modelos de redação adotados pelos três principais vestibulares do país e a matriz de correção de cada um deles.
Fuvest
A Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest) é a instituição responsável pela realização do vestibular da Universidade de São Paulo (USP), uma das maiores do Brasil. Logo, não é difícil imaginar o quanto essa prova é concorrida.
A redação faz parte da segunda fase do processo seletivo, a qual é composta por duas provas: a primeira possui 10 questões de Português – cada qual com dois itens a serem respondidos – e a redação, enquanto a segunda prova possui 12 questões de duas a quatro disciplinas – dependendo do curso escolhido pelo estudante.
O tipo de texto solicitado na redação é o dissertativo-argumentativo. A prova traz alguns textos de apoio e indica o tema que deve ser desenvolvido, além de fornecer algumas instruções como a quantidade de linhas exigida, a necessidade de criar um título e de usar a norma culta da língua portuguesa. Nesse sentido, vale ressaltar que desobedecer às regras pode fazer com que a redação seja zerada.
Os critérios de avaliação da Fuvest envolvem, principalmente, apresentação de conhecimentos e opiniões, argumentação coerente e pertinente, além de articulação clara, correta e adequada.
Unicamp
Assim como o vestibular da Fuvest, o da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) também aplica a prova de redação em sua segunda fase, no entanto, existe uma diferença importante entre essas Bancas: no caso da Unicamp, há duas opções de redação com temas e gêneros distintos. Além disso, os gêneros em questão não são divulgados pela universidade, o que significa que o candidato deve conhecer muito bem os diversos tipos de redação para se sair bem. Geralmente, a prova oferece dicas quanto aos gêneros propostos.
Para se preparar para uma prova tão cheia de particularidades, uma dica é estudar muitos textos de gêneros variados. Assim, ler e escrever editoriais, resumos, artigos de opinião, resenhas, cartas e vários gêneros narrativos — como romance, conto e crônica — é uma maneira eficiente de se habituar a esses formatos e também à linguagem utilizada neles.
Outra dica promissora é usar os temas das redações de anos anteriores para praticar a escrita e ler textos que receberam notas altas. Por fim, na hora de elaborar as redações, preste muita atenção às instruções para o desenvolvimento de cada texto — gênero, tipo de linguagem, tema e outras exigências.
Enem
Considerado o maior vestibular do Brasil, uma vez que é utilizado no processo seletivo de muitas instituições de ensino superior públicas e privadas por todo o território nacional, o Enem adota o texto dissertativo-argumentativo como modelo de redação. Por isso, a capacidade de apresentar argumentos para defender uma tese é essencial para conquistar uma boa nota.
O tema da redação costuma ter relação com alguma questão social e de grande relevância para o país, por isso, uma boa dica de estudo para essa prova é acompanhar as notícias durante todo o ano. Mantenha-se atualizado, conheça vários pontos de vista acerca de assuntos diversos e forme a própria opinião sobre eles.
A prova traz alguns textos de apoio, que servem para ajudar o candidato a compreender o tema, e instruções similares às dos outros vestibulares, como o número de linhas e a exigência da norma culta.
Uma particularidade da redação do Enem é a solicitação de uma intervenção como uma possível solução para o problema apontado – a proposta de intervenção, como é chamada pelo exame. Além disso, a avaliação é feita tendo como base cinco competências que valem de zero a 200 pontos cada. Assim, deve-se dominar todas elas para conseguir elaborar uma redação nota mil. A seguir, entenda quais são essas competências e o que cada uma contempla.
Competência 1
A primeira competência se refere ao domínio da norma culta da língua portuguesa. Um dos aspectos que os avaliadores observam é se o candidato tem domínio ortográfico e gramatical suficiente para garantir a fluidez da leitura e uma boa construção sintática. Além disso, o uso da escrita formal e das convenções registradas pelo Acordo Ortográfico são fundamentais.
Competência 2
Na segunda competência, o foco é a compreensão da proposta de redação, cujo tema deve ser desenvolvido seguindo a estrutura de um texto dissertativo-argumentativo. Para se sair bem, você precisa entender o tema e refletir sobre ele, utilizando seus conhecimentos prévios sobre o assunto para apresentar uma tese e desenvolver justificativas que a comprovem a partir de um repertório bem selecionado.
Competência 3
Essa competência analisa a sua capacidade de argumentação para defender um ponto de vista; logo, os avaliadores observarão se a sua tese foi apresentada de forma clara e com argumentos que a sustentem, bem como se você fez o encadeamento das ideias, incluindo suas exposições, explicações e exemplificações – o que demonstra que houve um planejamento prévio do texto.
Competência 4
A quarta competência é voltada para o domínio dos mecanismos linguísticos. Você deve usar os elementos de coesão que citamos no início deste post, como os conectores, as referências e as substituições para produzir uma redação com encadeamento textual. Assim, você consegue escrever de maneira articulada e, consequentemente, transmite uma mensagem de fácil compreensão.
Competência 5
A quinta e última competência se refere à proposta de intervenção que, normalmente, deve ser feita na conclusão do texto. Certifique-se de propor uma solução coerente para os problemas apresentados por você e que respeite os Direitos Humanos – determinação presente na matriz de referência da redação do Enem.
Qual é a estrutura de um texto dissertativo-argumentativo?
Por ser o modelo adotado pelo Enem e o mais solicitado entre os vestibulares, vale a pena reforçar as características do texto dissertativo-argumentativo. No que se refere à estrutura, esse modelo se divide em introdução, desenvolvimento e conclusão. Confira a seguir como deve ser elaborada cada uma dessas partes.
Introdução
A introdução deve apresentar os principais tópicos que serão abordados no texto. Trata-se de um trecho breve, geralmente de apenas um parágrafo, que deixa claro o tema da redação e o ponto de vista que vai ser defendido. Mantenha o foco no tema e não mencione nada que não pretenda discutir mais a fundo no desenvolvimento.
A linguagem deve ser clara e objetiva, preferencialmente com frases curtas, voz ativa e ordem direta. Além disso, é interessante começar instigando a curiosidade do leitor, para que ele tenha vontade de continuar acompanhando o texto.
Desenvolvimento
O desenvolvimento é a parte mais longa da redação, na qual os argumentos serão devidamente apresentados. A quantidade de parágrafos depende de quantos tópicos foram apresentados na introdução — o ideal é dedicar um parágrafo para cada argumento.
Assim, cada uma dessas divisões deve focar em uma ideia, mas é fundamental que exista uma linha de raciocínio ligando uma tese a outra. Lembra do que falamos sobre coesão e coerência? É aqui que esses recursos ficam mais evidentes, pois você tem a missão de convencer o leitor do seu ponto de vista, e isso só pode ser feito se os argumentos realmente fizerem sentido entre si.
No esforço de defender a sua ideia, tenha o cuidado de não repetir informações. Para reforçar a sua tese, forneça exemplos e cite fatos que legitimem a sua argumentação, por exemplo.
Conclusão
Assim como a introdução, a conclusão é feita em apenas um parágrafo. Aqui, ao finalizar a redação, não inclua novos argumentos — isso deve ser feito somente no desenvolvimento. Além de fazer um breve resumo do que foi dito, apresente a proposta de intervenção.
Por fim, não se esqueça de desenvolver um rascunho do seu texto primeiro.
fonte: https://blog.etapa.com.br/curso/tipos-de-redacao-dos-vestibulares
Autor: Curso Etapa